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Briga
Como um experiente lutador de brigas de rua, acostumado a ter calma em momentos críticos, pude ver, em detalhes, o exato momento em que seus mamilos se eriçaram e os delicados pêlos dourados de suas coxas se movimentaram como uma plantação de trigo castigada pelo vento. Não tive dúvidas que, naquele momento, a briga estava ganha por mim.
Todas
Tem da cabeluda, da branca, da preta, da do caralho, da infernal. Tem pequena, grande, deslavada ou suja, forte ou sutil, tem de todo tipo, não importa. Posso te vender a mentira que quiser. É assim mesmo, não se assuste.
Medo
Fronteira do México com o Texas. El Passo. 1991. Mil dólares no bolso e uma cabeça cheia de sonhos. A fronteira era invisível, apenas um pedaço de areia e sol a pino. Depois de uma noite andando com medo e frio os sentidos ficam moribundos e as decisões demoram a chegar. Aquela trupe de maltrapilhos desesperados por um emprego qualquer seguia adiante, sem medo. Ou com medo sem notá-lo. A fome e o sono são excelentes motores. Comigo, além da roupa do corpo, uma garrafa de bolso cheia de Jack Daniels, uma imagem da Santa Bárbara e um maço de cigarros baratos amassado. Eu não tinha certeza se queria aquilo. Nem me lembrava ao certo como havia chegado lá. Talvez influenciado, talvez entorpecido pela juventude, não sei, estava lá e isso me incomodou naquele derradeiro momento. Um trago e uma talagada para clarear os pensamentos e a certeza de que aquilo não seria bom tornou-se cristalina. Durante a noite, aqueci uma Chica que insistia em choramingar de medo e aquilo, por incrível que pareça, mexeu comigo. Seus cabelos eram negros como a fria noite do deserto e seu sorriso uma perfeita coleção de pérolas. O corpo pequeno encaixado no meu, um estranho, sendo caprichosamente iluminado pela tênue luz da fogueira. Não era um sonho, mas bem que poderia ter sido. Antes de me virar rumo ao sul ainda a enxerguei, uma última vez, andando trôpega com seus cabelos serpenteando de um lado para o outro como em desaforo às cascavéis do deserto e, num átimo de tempo, ela olhou para traz e sorriu ao constatar que eu havia abandonado aquele bando de desesperados em busca de uma latrina para limpar. Voltei, e ao chegar ao bar que fazia fronteira com o deserto, soube que aquele grupo havia sido dizimado pela polícia da fronteira. Santa Bárbara, se olhas por mim, leve-me de encontro à minha Chica porque agora, quem precisa de calor e aconchego, sou eu. Também tenho medo.
Livre
Discutiam ardorosamente sobre o que fazer. A enorme árvore estava ali desde sempre e segundo os mais velhos do bairro, começou a crescer e florescer em ritmo anormal desde que a freirinha que morava naquela casa havia decidido largar o ministério de deus e fugira com um desconhecido por aquelas bandas. Só sabiam que o sujeito era motoqueiro e que quando veio buscá-la, partiu apenas com a roupa do corpo e um sorriso que até então ninguém, jamais, havia visto naquele rosto tão angelical e sempre penitente. Alguns já haviam tentado envenená-la, mas suas raízes eram fortes demais. A casa da beata já mostrava rachaduras e sinais que indicavam que as delgadas raízes penetravam a casa por suas entranhas, abrindo-lhe o assoalho e levantando-lhe o piso do terraço da fachada. O medo era que aquele monstro arrebentasse com a rua, com as casas e com tudo ao seu redor. Foi então decidido que dois caboclos fortes e de origens roceiras trabalhariam sem descanso até que a árvore sucumbisse. Era um Pau-Ferro, segundo eles, e tratava-se da mais dura madeira. Os dois machados novos e reluzentes pareciam feitos de plástico perto dela. Trabalharam, de fato, sem descanso, por muitas e muitas horas e pouco avançaram na tarefa. Perceberam também que à medida que atacavam a árvore com ferocidade e disposição ela avançava a olhos nus casa adentro, abaixo e de todas as formas, como que a tragá-la para dentro de si. As inúmeras e incisivas machadadas pouco fizeram além de marcar a grossa casca que revestia o tronco. Ao término de uma semana de trabalhos e alguns revezamentos depois, constataram que não só a árvore permanecia praticamente intacta como também a casa havia quase desaparecido dentro das raízes. Decidiram então chamar um bruxo das redondezas e o vaticínio foi rápido e conclusivo. A árvore pararia de crescer e florescer e tudo voltaria ao normal, tão logo a casa fosse completamente engolida e levasse consigo os segredos da freirinha que àquela altura já estava longe, de braços abertos, voando mundo afora na garupa do amor.
Dilema
Aquela desgraçada sabe mesmo como me irritar. Seus dentes se movem como teclas de um piano fantasma num saloon abandonado e é impossível não sentir a força dos tapas na cara que suas palavras produzem. Ser um perdedor nesta vida não é tarefa das mais difíceis, convenhamos. Foda mesmo é o sujeito passar por ela ao lado de uma megera que sabe exatamente quais botões apertar para torná-la ainda mais miserável que uma lata de lixo amassada no fundo de um beco sujo e escuro. A força do amor surpreende até mesmo os imbecis que se julgam livres como eu. Mas ao contrário do que pensam, seria mais fácil livrar-me da bebida do que dela. O problema é viver com ela sem a bebida. Como sou um rato, como ela mesmo diz, não me resta alternativa senão pedir mais um scotch. Um dia viro homem.
Espero
Não me mexi, apenas virei meus olhos para ela, desviando o olhar do caminho que as colunas de fumaça azul faziam em direção ao teto. Vê-la apressada, procurando pela calcinha no meio das cobertas era um ritual inesquecível. Sempre atrasada, preocupada com o trabalho, marido e família, quase não percebia o quanto a amava. Um dia marcou no mesmo lugar de sempre e não apareceu. Em seu lugar um portador tocou a campainha e entregou-me um bilhete. Não tive coragem de ler, amassei-o e joguei fora. Preferi acreditar na minha versão de seu sumiço.
Cruising
A vida nada mais é do que uma sucessão de acidentes. É impossível sair dela sem algumas cicatrizes. Sorria enquanto tem dentes e aproveite a viagem enquanto ainda pode vê-la.
Ozônio
A relação era morna, sem sal e andava de lado, até o dia que lhe disse que era apaixonado por ela. Quando me perguntou o motivo, respondi que era por causa do cheiro de sol de suas roupas. Nunca mais nos separamos.
Duro
Aquilo era apenas uma forma de me coibir, mas como todas as outras, inócua. A palmatória jazia sobre a mesa como um objeto qualquer, podia bem ser caneta, peso para papel, máquina de escrever, o diabo. Nada daquilo me afetava. O fato de as pessoas nunca sorrirem para mim endureceu meu coração e, talvez, na mesma medida, meu corpo. Diferentemente dos outros garotos da minha idade, minha constituição física já era a de um homem feito. Meus músculos formavam aos dezesseis anos uma sólida massa uniforme e retesada, definindo exatamente, como num mapa de anatomia, onde ficava cada uma das fibras de cada complexo muscular. Pele mesmo era pouca. Apenas a necessária para esconder a carne quase-viva e as chagas da alma. Por dentro era pedra pura. Nenhuma alegria, nenhum motivo de felicidade. Todos os dias eram iguais. Igualmente ruins, tristes e custosos a acabar. Chego mesmo a acreditar que aquela fase era um sonho ruim que terminou quando amadureci e compreendi que não passamos de um monte de bestas famintas prontas a atacar uns aos outros em busca de um pedaço de carne, uma sombra, uma buceta ou um salário melhor. Hoje sou a palmatória, o milho, o vidro moído, o gume da faca e o chumbo. Mais fácil assim.
Musa
Ela entrou na sala de aula. Eu já estava lá, ansioso por sua chegada. Era sempre assim, todo dia, primeiro eu, depois ela. Talvez morasse longe, talvez viesse de carona. Eu nada sabia a seu respeito. Na verdade ela me desprezava. Os meninos daquela idade, de um modo geral, não existem para as meninas de quatorze anos. Seus olhos só viam os meninos do colegial, quatro ou cinco anos mais velhos, com fartos pelos púbicos e bíceps formados. A longa saia do conservador uniforme insistia em me dizer que suas coxas eram tenras, exatamente como as das revistas que eu usava para me masturbar. Eram páginas e mais páginas de pura perdição vespertina. Seus cabelos cacheados, longos e ruivos dançavam ao ritmo de seu andar como mulheres embaladas pelo Ula-Ula diante de uma fogueira ou de um deus da Polinésia. Antes de sentar-se e colocar o material caprichosamente na gaveta da carteira, ela ajeitava a saia para que não a amassasse e aquele movimento revelava suas recém-formadas ancas, de um redondo perfeito, duro e virginal. Às vezes, com muita sorte – e eu procurava não perder aquilo por nada – era possível vislumbrar um pouco de tecido enterrado entre suas nádegas e, neste momento, quando ele se desprendia, era quase possível ouvir o lamento das fibras do algodão. Sorria discretamente para suas colegas próximas, mostrando um breve brilho de marfim. O contraste do vermelho de sua gengiva com o branco de seus dentes atingia-me, diariamente, como mil raios em um descampado. A energia produzida por eles era imediatamente canalizada para o meu pau, que naquela época, funcionava como um mero pára-raios sem qualquer outra utilidade. Sonhava em receber um daqueles sorrisos. Sonhava em sentir o cheiro de sua calcinha. Talvez invadir seu quarto um dia e revirar suas gavetas. Cheirar peças íntimas, beijar blusas e saias, declarar meu amor às suas meias e dormir abraçado com os fios de cabelos roubados por sua escova durante o demorado processo de acariciar sua cabeça todos os dias. Aliás, não me importaria se por um dia apenas pudesse ser o ralo de seu chuveiro. Sorver caprichosamente, como um néctar, todo o líquido que escorria por aquele corpo. As gotas fazendo o contorno de sua nuca, depois de lavar seus cabelos, descendo por suas costas, contornando curvas como um aprendiz de motorista, pegando velocidade a cada milímetro, dando saltos de acrobata sobre pequenos pêlos vermelhos para, ao aterrisarem, multiplicarem-se em outras tantas pequenas gotas, percorrendo caminhos diversos para depois desaguar em minha boca, mas nunca sem antes passar por sua delicada vagina cor de tomate doce. Nada escaparia, tragaria sabão, pêlos, cabelos, excreções e fluídos como um bueiro faminto. Esse transe só passou quando percebi distante ao fundo, como se fosse um sonho, que meus amigos riam de mim quando constataram que ali mesmo, na sala de aula, nas primeiras horas do dia, eu já havia me esvaído em excitação, negando às musas da revista aquilo que seria delas depois do almoço. Eu a amava.
Rústico
Minha educação não resiste a testes muito exigentes. Não sei e não quero aprender a comer com doze talheres, quatro copos e dois guardanapos. Um garfo, uma faca e um copo me bastam, mas dependendo do rango, uma colher resolve e o gargalo mata a sede igualmente. Não que eu seja um troglodita, mas se minha educação fosse um carro ela provavelmente seria um Jipe Willis 1942.
Mais
Abriu o zíper para mijar no imundo e familiar urinol do boteco. No meio da tontura provocada pela incompreensão e pelo álcool ainda tentou imaginar a quantidade de angústias que passaram por aqueles orifícios da louça. Anos e mais anos de ódio, frustração e dor amarelos, diluídos em álcool e despejados na envelhecida latrina. O esgoto range a cada dia, tamanha a quantidade de sofrimento que recebe. Interrompeu a mijada em solidariedade aos cansados canos e com as mãos apoiadas na pia enquanto se olhava no espelho trincado tentou construir uma forma de explicar para sua pequena que sentada no pequeno salão do bar insistia em chorar borrando a maquiagem. Ela alegava que não sentia amor quando transavam, como ela gostaria que fosse. Para ele, possuí-la era muito mais que isso. Muito mais do que amor. Era uma forma de expressão revestida de várias modalidades que se amoldavam ao seu sentimento do momento. Ele trepava com ela por raiva, comia ela por angústia, fodia por falta de dinheiro, metia por dor, estuprava por frustração, arrebentava suas entranhas por se sentir um fracassado e, às vezes, quase raramente, fazia amor, por puro amor. Precisar dela como ele precisava era uma questão que ia além do amor. Era uma verdade em sua vida.